Temos capacidade de nos liberarmos
de todo o sofrimento?
De acordo com o pedido que foi feito para
falar sobre os meus estudos budistas e a visão, sobre como pratiquei baseado
neles e no que acredito, gostaria de aproveitar esta ocasião para falar sobre o
que penso. No que diz respeito aos estudos budistas inicialmente eu era um
estudante.
Depois de meus estudos, tornei-me
professor da doutrina budista e também trabalhei como representante do diretor
da escola. Com base nesta experiência descobri que poderia ser de leve
benefício para os outros.
Dentro de tradições budistas, temos
muitas reflexões sobre a vida humana comum e sobre o benefício associado às
formas como usamos nossa vida. É benéfico explicá-los e, de uma maneira geral,
estas reflexões são como se seguem.
Sangye Nhyengpa Rimpoche
NOTA: Os colchetes
inicialmente usadas para indicar palavras adicionadas pelo tradutor para uma
melhor compreensão e / ou fluência do Inglês, foram removidos nesta tradução
para a conveniência do leitor. Neste mundo, existem muitas raças e sociedades
humanas diferentes.
Mesmo dentro das
sociedades, há muitas maneiras diferentes de pensar. Por isso acredito que,
embora as religiões, raças e culturas são diversas, todos eles compartilham o
mesmo objetivo. Não importa que tipo de pessoa possa ser, todo mundo é
semelhante no desejo alcançar a felicidade e em não querer o sofrimento.
Em
termos de visão mais ampla, pode-se dizer que há muitas religiões no mundo e
cada uma dessas religiões tem inúmeros pontos de vista distintos e maneiras de
fazer valer as suas posições filosóficas. Por exemplo, mesmo dentro do budismo
muitos debates tiveram lugar na Índia no passado. Havia também muitos debates
no Tibete entre os estudiosos individuais sobre a maneira de praticar a visão
budista e fazer valer os seus princípios filosóficos. Às vezes, contudo esses
tipos de debates não são muito relevantes. Dentro das sociedades a prioridade
é a necessidade de desenvolver um bom coração.
Tendo apresentado primeiro a
importância de gerar um bom coração como sendo a raiz de todos os pontos da
visão budista, agora elaborarei sobre esse assunto.
Neste mundo, muitas guerras
acontecem em nome de religiões e há muitas disputas sobre economia e política.
Qual é a raiz de todos esses conflitos? A causa principal é que o caráter
natural do ser humano é ser desonesto, falso, ter fortes desejos egoístas e
apenas uma pequena inclinação para beneficiar os outros. Como resultado, infelicidade considerável acontece neste mundo. Isso fica evidente quando se
investiga através de raciocínio lógico.
Todos os distúrbios de todo o
mundo aparecem da fixação ao ego e do apego
mundo aparecem da fixação ao ego e do apego
Há muitas religiões diferentes neste
mundo, as principais são Budismo, Cristianismo, Islamismo, Judaísmo, e
Hinduísmo. No entanto, porque há diferentes maneiras de fazer valer os pontos
de vista dessas religiões, a pessoa tende a não aceitar a posição alheia. No
entanto, o único fundamento de todas essas religiões é a bondade amorosa, uma
mente altruísta, uma mente voltada para o despertar, ajudar os outros, evitando
prejudicar outros seres sencientes - em suma, uma atitude de beneficiar os
outros, tanto quanto possível.
Estes são os fundamentos básicos presentes em
todas as religiões. Portanto, somos capazes de inferir que essas religiões têm
o mesmo objetivo. Por exemplo, dentro do budismo, o professor da doutrina
budista, o Abençoado, e da mesma forma os líderes que ensinam os caminhos de
outras religiões, todos ensinam, com sinceridade e de forma genuína, o caminho
de não prejudicar os outros. Esses próprios professores já trilharam por esse
caminho e eles nos ensinam, seus seguidores, esse caminho que nós certamente
temos de seguir. No entanto, apesar de nós, os praticantes, contarmos com as
instruções do professor, às vezes somos incapazes de seguir estes exatamente e
nossa prática torna-se distorcida. Quando aplicado incorretamente, nós seremos
incapazes de praticar de acordo às instruções dos professores da religião
individual e assim não poderemos segui-los autenticamente. Por essa razão, se
nós somos seguidores ou não, nós todos compartilhamos do mesmo objetivo. Se
somos religiosos ou não, todos temos o inato sentimento da necessidade de
conquistar a felicidade e de evitar o sofrimento. Quando pensamos dentro do
âmbito budista, compreendemos o fato de não querer o sofrimento e querer a
felicidade. Portanto é relevante este ponto de reflexão sobre a necessidade de
como abandonar o sofrimento e como conquistar a felicidade. A esse respeito
primeiro, o professor (o Buddha) ensinou as Quatro Nobres Verdades. Se alguém
perguntar, será que temos em nós a capacidade de nos liberarmos de todo o
sofrimento, a possibilidade de abandoná-lo, a capacidade para esgotado-lo? Sim,
temos. Essa é a Verdade do Caminho, e sua seqüência é considerada da seguinte
forma. Não importa se alguém é religioso ou não, todo precisam aplicar os
ensinamentos das religiões. Pode haver diferentes termos que são usados em
diferentes religiões para os princípios básicos de uma prática, mas estas
explicações dizem respeito à prática comum a todas as religiões. Ao explicar o
sofrimento, pode ser dito que há um tipo grosseiro de sofrimento que nós, seres
sencientes comuns somos capazes de sentir e experimentar. Contudo, seres
sencientes comuns não podem sentir a existência de um tipo sutil de sofrimento
dentro dessa consciência grosseira.
"Eu não quero o sofrimento e devo abandoná-lo"
Existem dois tipos de sofrimentos que podem
ser experimentados - um sutil e um grosseiro. Quando falamos sobre o tipo
grosseiro de sofrimento, geralmente é sobre uma grande doença, em termos de
nosso corpo.
Sabemos que este é o sofrimento. Quando experimentamos
dificuldades e infelicidade na nossa mente, nós também somos capazes de sentir
que estes são o sofrimento. Além disso, se não formos capazes de realizar
nossas necessidades pessoais, grande angústia mental surge. Sofrimento mental
também é criado quando as coisas que nós não precisamos ou não queremos ocorrem.
Esses tipos de coisas são o tipo grosseiro de sofrimento. Sem precisar pensar
muito sobre isso, logo que estamos sofrendo, somos capazes de reconhecê-lo como
tal. Isto é referido como o tipo de sofrimento grosseiro.
O que geralmente é
chamado o tipo sutil de sofrimento também existe em nós, mas nós não somos
capaz de senti-lo dentro na nossa presente consciência grosseira.
Falando
geralmente, todos os seres sencientes têm cinco agregados: um agregado de
forma, de sentimento, da percepção, da formação (mentais) e da consciência.
Assim que nascemos em qualquer mundo naturalmente temos esses cinco agregados
como a base do nosso ser, que é o lugar para o tipo grosseiro de sofrimento.
Desde o início, há uma fundação, uma única raiz, da qual todo sofrimento
grosseiro surge. Se não a temos, o sofrimento grosseiro não poderia surgir em
nós. Há também um tipo sutil de sofrimento associado com esta fundação, o lugar
decorrente do sofrimento grosseiro. Quando é que o tipo sutil de sofrimento
pode ser visto? Quando nós sinceramente nós nos engajamos em muitos estudos
sobre a consciência presente, nossa consciência torna-se constantemente mais
clara e clara. E desse modo esta presente consciência deixará de ser grosseira.
Devemos avaliar até que ponto somos capazes ver o sofrimento sutil. Depois de
estudar e contemplar a consciência presente, a qualidade da nossa mente vai
aumentar. Eventualmente, quando as qualidades de nossa mente são aumentadas, a
mente não permanecerá indomável como é agora. Quando a mente se torna clara e
calma, alguém será capaz de entender diretamente, baseado na experiência, o que
é a fundação, o lugar do surgimento do sofrimento grosseiro - o assim chamado
de "sofrimento sutil" – é na verdade. Portanto, a fim de compreender
o tipo sutil de sofrimento, é essencialmente necessário que treinemos a nossa
mente.
Donde o professor (o Buda) começou, quando ele ensinou o Dharma? A
partir do fato de que nós precisamos entender o sofrimento.
Esta é a raiz. Não
há sequer um único ser senciente que deseje o sofrimento. Por esta razão, que
tipo de objetivo precisamos desde o início? É muito importante no início
refletir sobre o fato de que não precisamos de sofrimento e que o sofrimento
não é real. Portanto, devemos pensar: "Eu não quero o sofrimento e devo
abandoná-lo". Enquanto refletimos sobre este pensamento, quando adotamos
uma atitude que deseja se libertar do sofrimento, que métodos existem que nos
permita abandoná-lo imediatamente? Não há o imediato, mas ao mesmo tempo
precisamos abandonar esse sofrimento. Uma vez decidido que você não o quer,
deve realmente investigar donde este sofrimento inicialmente surge. Para isso
é importante reconhecer a fundação, a raiz, que é o local proveniente do
sofrimento. O segundo ponto, neste contexto, é sobre a causa e a raiz do
sofrimento, que estão se apegando a um ego e emoções negativas.
Há emoções
negativas que perturbam nossa mente. Essas emoções negativas que nos perturbam
e aos outros são os pensamentos de ódio, raiva e inveja. Quando a mente se
torna totalmente grosseira e má ela também pode fazer a mente de outros
grosseiros, maus e infelizes. A mente assim não tem paz nem felicidade. Dúvidas
e miséria constituem esta mente escura, negativa. Diz-se que esta é a raiz de
todo o seu sofrimento.
Em nosso mundo, até mesmo os animais, que são seres não-
humanos, têm, desde o início um problema devido à noção de "eu";
primeiro, o "eu" precisa de algo bom para mim. Por causa da noção de
"eu", "eu" penso que ter grandes dificuldades e
descontentamento não é desejável, e que ótimo é ser alegre e feliz. No entanto,
"eu" pensa muito pouco sobre o fato de que não é bom quando os outros
estão sofrendo e "eu" debilmente tem pensamentos de desejo sobre como
é bom se outros fossem alegres e felizes.
A maioria das pessoas pensa que
quando o sofrimento ocorre a eles não é bom e o que é bom se alegria e
felicidade acontecem. Portanto, há sempre grande fixação ao ego e grande apego
a si em suas mentes. Todos os distúrbios de todo o mundo aparecem dessa fixação
e do apego.
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*Postagem: Jardim Dharma
*Imagem: Reprodução